PACIÊNCIA INOCENTE



Ao redor dela
Perto dela
Dedicando-me a ela,
E ocupando-me dela
Sem ganhar um tostão;
Em volta dela
E por todos os lados,
Sempre com ela
E ela comigo
A ponto de...
Bem, ela sabe,
Foi desde miúdo
A correr de um lado
E do outro,
Por toda parte.
Hoje, tem mais de vinte e um.
O tempo a mudou,
O vento a mudou,
E a crescer
Ela continua,
Ela?
A minha árvore favorita,
Que plantei
Sem obrigação
De frutos colher. 




2005 - Portugal
A fé e o Atiçar

Sob sete palmos,
plantaram-se ossos,
que regados com  lágrimas;
nasce um salgueiro
chorão que chora
numa terra
que outrora
viveu uma mangueira.
Crê na crença
do coitado que jaz,
que rodeado de negros,
 sucumbe à cegueira.
Lacrimosamente,
após sete anos,
sob sete palmos;
Naquele solo infértil,
que também já foi rocha
mas que agora resuma água,
Nasceu uma nascente
De onde do túmulo
De um morto descrente,
mana água,
gota a gota,
insípida e salgada
da lápide pranteada
do Senhor Clemente Salgado.


 2005 - Portugal