Monopolium (Narrativa que guia o filme).

MONOPOLIUM
Espólios do Passado



    

Pagamos amanhã o que fazemos hoje!
Ou será que…
Pagamos hoje o que fizemos ontem?


   Ano 2017.
   Tribunal Internacional de Haia, hoje comecei a ser julgado por um crime que não cometi…nessa vida, mas sim em outra vida passada.

   Há um ano atrás fui testemunha de um crime, mas as provas que os promotores tinham me faziam réu, foi então que pedi para que fosse feito a reconstituição do que se passou, pois não lembrava muito bem aquele dia de Abril na cidade de Barcelona. Uma técnica usada nesse tipo de reconstituição é a da Regressão, feita por um profissional da área da psicologia e essas reconstituições são consideradas pelo júri e pelo juiz em tribunal sendo alargadamente usadas em casos especiais. Quando se faz a regressão todo o depoimento é gravado em vídeo além de ser supervisionado por um promotor nomeado pelo juiz e pelo meu advogado para que aja transparência e não haja manipulação de provas. Acontece que a técnica usada pelo psicólogo me fez retornar a outra cena de crime que cometi em uma outra vida passada, mas quanto ao crime em que era testemunha estava eu inocente de ter praticado tal crime era mesmo eu só uma testemunha e fui logo absolvido. Porém hoje estou sendo julgado de genocídio, pois, se através daquela regressão me safei de ir inocente para o cárcere agora estou muito perto de ser condenado a uma pena perpétua, e até desejo isso pois vou estar mais seguro preso que a andar por La Rambla em um domingo de manhã ou a fazer a minha caminhada matinal em Montjuic. Por incrível que pareça. Alguém pode ser julgado hoje por um crime que cometeu em uma vida passada? Como estou aqui, acho que sim, pelo menos no meu caso. No começo foi difícil aceitar mas agora prefiro assim. Um dia alguém resolveu vender a gravação da minha regressão, digo, a parte que não foi mostrada naquele tribunal que me absolveu, essa pessoa ganhou dinheiro alheio, além de literalmente ter-me condenado à morte, a emissora que transmitiu não diz quem foi sob alegado sigilo profissional, eles não entenderam que uma vida foi tirada, a minha, hoje, mas veja você, estou justamente sendo julgado pela morte de centenas de milhares de pessoas e não fui se quer julgado e muito menos condenado a nada naquela vida, mas depois que me suicidei, até hoje muitos anos depois ainda “sou lembrado e até odiado”, acredito que a pessoa que vendeu a VHS da minha regressão foi o meu próprio defensor do caso em que tudo isso começou, ele, aquele advogado era bisneto de um francês que eu mandei matar ao invadir a França, pois bem, estou sendo julgado hoje aqui neste tribunal internacional porque eu mesmo quero, sempre fui uma pessoa correcta e coerente, e achava que normal, mas o que estou fazendo agora não é normal, me deixando ser julgado, e por um motivo nesta minha vida, condeno-me a ser Adolf Hitler no passado. Tire as suas conclusões. Mas pense, se você estivesse em minha pele hoje, o que faria? Acredito que o mesmo que estou fazendo agora nesta cadeira sem estética e designer, só por dizer isso você já notou a minha frieza, sim é verdade, estou descansado aqui, na rua é que não. Lá fora iriam me perseguir e até me matar mas não sem antes me torturarem. Assim também tenho mais probabilidades de estar a salvo de outro julgamento no futuro pós esta vida de ser condenado outra vez sem ter “pago” o que fiz antes da 2ª grande guerra a qual eu sempre condenei os meus actos de “ontem” hoje. Os julgamentos hoje (2017) são na sua maioria feitos usando a tecnica regressão, mas depois deste meu caso vai ser muito questionado o uso desta técnica. Talvez um dia seja um outro ou até mesmo você a ser julgado pela morte de Jonh Kennedy ou até mesmo… de Cristo.


By j.charles silva - 2003

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